quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

23rd Season

Ele ainda não tinha dado o primeiro gole, continuava ali a dar voltas e voltas com a colhar na caneca, se continuasse a fazer aquilo por muito mais tempo acho que até a furava. Mas a Sofia apareceu, apareceu ensonada, despenteada, com a cara por lavar, com cara de mau-humor matinal. Não disse nada, preparou o seu pequeno-almoço, comeu. Isso que até o incentivou a fazer o mesmo. Só no fim de comer disse:
- Bom dia!
- Bom dia! – respondeu Mariana.
- Que fazes aqui tão cedo?
- Precisamos de falar – respondeu.
Aquele ar dele. Preocupado, carrancudo. Aquele tom de voz. Aquela preocupação visível nos olhos dele. Ela conhecia-o e tudo aquilo lhe parecia estranho (…)
- Não vem aí coisa boa – disse sussurrando - respondes-te muito rápido. Mãe, importas-te se formos para o meu quarto?!
- Não, vão lá. – Ela estava também preocupada. Enquanto fizera o pequeno-almoço mil e uma hipóteses do que se devia tanta preocupação lhe surgiram pela cabeça, mas depois de algum estudo, nenhuma lhe parecera plausível.
(no quarto)
Sentaram-se os dois na cama, depois de ela ter ajeitado os lençóis. Ele estava a mexer as mãos, não parava de roer as unhas, e ajeitar as peles, depois estalava os dedos, ele estava mesmo muito nervoso… Ela não sabia o que havia de fazer, mexia no cabelo à espera que ele disse-se alguma coisa… Aquele silêncio era insuportável, e estranho até. Eles nunca tinham ficado assim, sem tema de conversa. A primeira e única vez que isso acontecera foi no primeiro encontro, naquele em que ela deixara cair os livros todos, e ele cuidadosamente a ajudou, aí ficaram sem saber o que dizer. Ficaram encantados pela beleza um do outro, e não o queriam admitir. Mas ali era diferente, ele simplesmente não desembuchava, e ela começava a ficar nervosa. As suposições dela passaram desde “apaixonei-me por outra pessoa!” a “comprei um cão!”, até que ele se lembrou de dizer alguma coisa.
- Bem eu tenho uma coisa para te dizer.
(silêncio)
- Sim, até aí eu já percebi. Queres-me dizer o quê? – disse, em tom de brincadeira, tentando acalmar aquele ambiente.
- Eu… eu… eu não sei por onde começar.
- Aceitas sugestões? Pelo início acho que é um bom começo.
Ele levantou-se, e dirigiu-se à janela. Agora a precupação dela era ainda maior. Ele não estava mesmo nada bem. Havia ali alguma coisa que o atormentava. Ela então levantou-se e abraçou-o, abraçou-o com tanta força que ele sorriu, por poucos instantes mas sorriu. Quando ela o largou, eles olharam-se nos olhos. Ela viu que todas aquelas suposições dela estavam erradas. Eles ainda se amavam, a ainda haviam de se amar durante muitos anos.
Ele finalmente ganhara coragem e começara exactamente, por aquele sítio mágico “o início”.
- O meu pai, bem, tecnicamente ele tinha acabado as suas viagens de trabalho, até porque está a ficar um bocado velho de mais para aquilo.
Sim, até ali nada de mais. Era muito normal, o pai dele era simplesmente um lutador, e não iria desistir daquilo, do seu trabalho de longos anos, da vida toda (acho que até se podia dizer assim), assim tão facilmente.
- Sim, e… - disse, mostrando impaciência.
- Mas, agora surgiu uma viagem muito boa, “muito produtiva uma proposta imperdível”, como ele disse.
- Sim, e depois? Não é a primeira, e acho que não será a última, o teu pai é casmurro.
- Pois, a má notícia está no seguinte: a viagem demoraria dois anos, porque é em vários estados, dos Estados Unidos, e depois volta para a Europa, e ele quer que vá com ele.
A face dela ficou sem expressão definível, ele voltou-se para a janela e chorava. Ambos sofriam com aquela má notícia. O mundo como que desabou e eles, ambos, só não conseguiam suportar aquilo. (…)


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

22nd Season

Já passavam duas semanas desde o último encontro a quatro. Mas secretamente Mariana e Telmo foram-se encontrando assim como Sofia e Duarte. Mas nessa manhã o Duarte foi ter com ela o mais cedo possível.
Quando tocou à campainha, a mãe dela levantou-se ensonada e foi abrir a porta, quando viu de quem se tratava, olhou para o relógio que estava sempre no fundo do corredor:
- Tu aqui?! Tão cedo?!
- Sim, posso entar?
- Que estupidez a minha, claro entra!
Ele foi direitinho à sala, com a segurança de como se aquela casa fosse dele, e em parte era, todos eles o sabiam. Ele passava mais tempo alido que na sua própria casa. Ele sentia-se melhor ali doque na sua própria casa. Talvez até gostasse mais daquela casa do que da sua própria casa.
A sua casa era exageradamente grande para apenas duas pessoas, ele e o pai, tirando as vezes, a maioria das vezes, em que é so ele que lá está. Ele nunca tinha dito o que acontecera à mãe, mas ela abandonara-o à nascença, ela deixara-o nos braços do pai com apenas cinco dias de vida. Ele nunca vira a mãe, nem fotos dela sequer, sempre que ele perguntara alguma coisa ao pai, ele engolia em seco. Houve alturas até em que o sentia a travar as próprias lágrimas, como se se impedisse a si próprio de chorar. Por ver esse sofrimento do pai quando tacava no assunto, decidiu nunca mais perguntar nada. Até porque por mais razões que a mãe tenha abandonar um filho, não é sequer justificável. Ele nem imaginara o quão foi difícil para Telmo suportá-lo.
Ele sentou-se no sofá, enquanto tudo isto lhe passava pela cabeça, a Mariana sentou-se à sua frente, e ele observou o ar triste dele, o seu ar confuso, o seu aspecto desamparado.
- O que se passou?- perguntou ela, quebrando aquele silêncio infindável daquela sala.
- Preciso de falar com ela!
- Mas o que se passou? – insistiu.
- Só preciso de falar com ela. – disse com um ar que ela nunca tinha visto antes.
- Está bem! Eu vou chamá-la. – disse não querendo insistir mais.
- Não se ela está a dormir, eu espero. – disse ele rapidamente.
- Ela ontem deitou-se cedo, pode ser que ela acorde a boas horas hoje. – ela reparou no nervosismo dele, ele não parava de se beliscar,de mecher nas unhas, de fazer aquele tique com o cabelo, e já para não falar do pé, que batia constantemente.
- Eu espero o tempo que for preciso! – sorriu-lhe, contudo foi um sorriso tão forçado que ela se viu na obrigação de lhe dar um sorriso reconfortante, amigável.
- Já tomas-te o pequeno almoço?!
- Não, mas não tenho fome!
A jovem adulta reparou na sua voz rouca, mas não perguntou mais nada. Limitou-se a levantar-se daquele sofá, para lhe preparar alguma coisa.
- Bem, eu vou fazer-te alguma coisa leve.
Quando ela se levantou, ele olhou fixamente para ela.
Ela era muito bonita, de verdade. Ela e a filha eram muito diferentes mas tinham feições, expressões, não sabia explicar iguais, e, epesar da sua diferença de idades, elas pareciam irmãs ou primas.
Mariana, uma jovem adulta, de 34 anos, divorciada, com uma filha adolescente de 19 anos. Não era propriamente uma mãe normal, e que aceite isto como um elogio. Elas partilhavam roupa, e os seus corpos esbeltos destinguiam-se no meio de muita gente. Tinham o mesmo feitio, e apesar de mãe e filha eram as melhores amigas.
Talvez muita gente invejasse aquela relação. Talvez…
Ela invadiu aqueles pensamentos quando lhe tocou suavemente no ombro:
- Anda comigo!
Ele levantou-se, e conforme o que lhe fora pedido, seguiu-a
- Acho que devias comer qualquer coisa, nem que seja para te acalmares.
Ele não respondeu, mas sentou-se, sentou-se naquela cadeira que já era “dele”, graças àqueles almoços, aqueles jantares. Graças àquela casa, era ali porque era o lugar mais perto da sua Sofia, e agora estava ali ele, sentado, à espera que ela chegasse, à espera que ela se sentasse ali ao pé dele, e metesse a sua perna por cima da dele, como costuma fazer sempre. (…) 


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

21st Season

Já se passaram três anos desde o primeiro encontro naquele café, que ainda hoje estava aberto e era frequentado por eles muitas vezes. Ela agora tinha 19 e ele 20. Eles viviam como todos os casais felizes vivem, mas na minha opinião, ainda mais felizes.
Não havia nada que os derrubasse, o amor deles é tão, mas tão tão forte. As férias do pai dele começavam a ser mais e mais longas, o que permitiu tanto à Sofia como à Mariana conhecer o Senhor Telmo.
“Sais mesmo ao teu pai. São tão parecidos. Nas fotos ele parecia diferente, deve ter emagrecido. É uma pessoa fantástica, tal como tu.”, disse apaixonadamente a Duarte, numa das vezes em que saíram os quatro.
Essas saídas já eram muito comuns. Mariana e Telmo adoravam-se. Ele era um pouco mais velho, mas Sofia achava que eles eram perfeitos um para o outro.
“És um filho fantástico, Duarte!” disse Telmo, orgulhosamente, “precisei de ti até para me encontrar uma mulher que falasse comigo por ser eu, e nãopor ter uma carteira recheda!” justificou-se.
Eles eram os dois divorciados, Mariana havia sido mãe nova, e ele, ele apenas tinha casos com aquelas que ambicionavam a sua carteira, casos a ele vulgarmente chamava “solos de pouca dura!”. Aquelas pequenas diversões entre viagens de negócios. Aquilo era o que o seu filho via mais como casos de negócios.
Ele não era o homem perfeito. Mas também imperfeições eram o melhor de si. Ele era alto, e tinha uma aparência muito atraente, por acaso. Não era propriamente a beleza típica, loiro, olhos azuis, mas diferente é belo também. E ele era bonito. O Duarte tinha exactamente os seus grandes e profundos olhos. E um fazia lembrar o outro quando falavam, quando olhavam, quando se mexiam basicamente. 
A Sofia sabia que Mariana estava a começar a gostar nem que fosse só estar com ele, falar com ele. QUer dizer, tantos anos sózinha, e aparece assim um homem, que até é jeitoso e não é daqueles que depois de uma noite de sexo a descarta, até é bom romântico. Se fosse como o filho (e ela sabia que era) era o homem perfeito para ela. Ela sabia-o.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

20th Season

No dia seguinte foi tudo muito calmo. Passaram o dia na praia, como não tinham fatos de banho, limitaram-se pelos passeios à beira-mar, e por brincarem na areia, como umas autênticas criança, mas a virtude estava em que eles estavam realmente felizes.
Durante uma caminhada, antes do almoço, eles estavam a falar e subitamente ela disse:
- Posso-te fazer uma pergunta?
- Podes – respondeu, embaraçado – acho eu.
- Qual foi a loucura mais absurda que já fizeste?
Riram-se alto os dois.
Ela olhava para ele na esperança de uma boa resposta, ele estava ainda a pensar, quando interrompeu o silêncio:
- Bem a loucura mais absurda foi quando eu e um grupo de amigos pegamos nas nossas motorizadas, ou dos nossos pais – disse, sussurando – e fomos de tronco nú e calções à praia mais próxima, para darmos um mergulho. Já estavamos meios zonzos, se é que me entendes. E por sorte não apanhamos a polícia, mas não chegamos a mergulhar porque adormecemos antes de sequer sentir o cheirinho a sal. Demanhã quando acordamos rimo-nos até não podermos mais.
Riram-se, mostrando cumplicidade. – Mas porquê essa pergunta?
- Só queria saber do que eras mesmo capaz.
- Sou capaz de muita coisa – disse num tom provocador.
- Isso sei eu – respondeu, entrando na brincadeira.
- E tu, qual foi a tua maior loucura?
- Foi fazer amor com um tarado que só me queria tirar a virgindade – disse ela no tom mais provocador que ela própria conhecera de si mesma.
- Tarado? Queres ver o tarado?
Ele atirou-a para a água, atirou-a e ela puxou-o para si. Beijaram-se, como não o faziam quando a mãe estava por perto, ela chapiscou água para ele, e ele para ela. Eles eram unha com carne, os melhores amigos tornaram-se nuns perfeitos namorados, eles viviam sem ligar a comentários, a juízos de valor. Afinal eles não eram assim tão novos quanto isso, mas aos olhos das pessoas… há sempre algo a dizer. Há sempre alguma coisa que as pessoas arranjam para criticar. A sociedade não é boa de todo, quando a inveja é maior. Mas eles viviam bem com isso, eles eram eles e viviam de forma a manterem-se eles sem intervenção da sociedade. Eles completavam-se, e era evidente que não viviam um sem o outro… 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

19th Season

- Se pensares bem, isso nunca aconteceu.
- Hum, talvez tenha acontecido. – insistia o Duarte.
- Pensa bem! – persistia Sofia.
- Mas vocês já se calavam, os dois!! – ripostava em tom irónico a Mariana.
- Nãoooo! – responderam em coro.
E gargalhada geral. Tinham-se levantado à pouco tempo, estavam na cozinha e, para espanto delas, quem estava a fazer o pequeno-almoço era o Duarte. Como de costume, as torradas bem castanhinhas, cheinhas de manteiga até às orelhas, e o café com muito açúcar e o leite exageradamente enchocolatado.
- Assim, vamos todos sofrer de diabetes. – reclamou Sofia.
- Se continua a ser ele a fazer o comer (…)
- Se não gostam, não comam! Façam vocês. Despeço-me!
E, novamente, gargalhada geral. Era sem dúvida uma manhã animada, ainda estavam de pijamas, cabelos despenteados, mas eles seriam sempre assim, sorridentes, bem-dispostos, cúmplices.
- Olha, Mariana, hoje precisava que me levasses a minha casa. É que o meu pai ligou-me, porque acho que ele traz companhia lá de Andorra, e pediu-me só para dar uma vista de olhos.
- Claro, e leva também essa piolha e assim aproveito e faço aqui umas limpezas.
- Está bem.
- Óh mãe, eu dou-te a piolha, dou.

****
Mariana ligou a aparelhagem e meteu a música bem alto, enquanto ia passando o pano aqui e ali, puxando um lençól e outro, endireitando um quadro, perfumando a casa, ia cantando e dançado. 
Enquanto que eles, não fizeram nadinha na casa dele, a casa estava perfeita e intacta, e Sofia apesar de já lá ter entrado admirou-se com tanta beleza e tanta arrumação. Aquela casa tinha algo diferente e especial, primeiro, as paredes não eram apenas brancas, tinham cores, cores clarinhas mas que recusavam o monótono, o perfume era agradável, a decoração era linda, e parecia saída de uma revista do “IKEA”, ou da “Moviflor”, algo do género. Então e o quarto dele, para não falar daquela salona.
Ele atirou-a para o sofá, e ela até teve pena de desarrumar, mas rapidamente foi envolvida por aquele clima amoroso. No meio de muitos beijos, consegui soltar algo que se assemelhavam a palavras:
- Não era para dar um jeito a isto?
- E alguém veio para aqui desde que a D. Amélia teve férias?!
- Ai tu mentis-te à minha mãe?
- Não, eu apenas omiti. Queria estar contigo!
- Hum, não sei não.
- Desculpa – disse ele, agarrando-a pelas ancas, ela amava que ele fizesse isso, e ele sabia perfeitamente, por isso o fazia. 
- Não sei se desculpo – resistiu Sofia.
- Ai não sabes – puxou-a e roubou-lhe um beijo – e agora já sabes?
- Não tenho a certeza.
Pegou nela, levou-a ao colo para o seu quarto. Envolveram-se em beijos, recharam-se de amor, e relembraram alguns momentos. Contaram a história um ao outro do início, e umas belas horas depois, ele disse-lhe:
- Vês, agora já temos alguma coisa que fazer.
- Pois, agora! Mas vá, vamos lá. A tua sogrinha deve estar à nossa espera. 



sexta-feira, 11 de novembro de 2011

18th Season

Quando chegaram ao quarto meteram-se no quentinho dos cobertores e falaram, falaram durante horas a fio:
(…)
- E então como foram estas férias?
- Foram ótimas!
- A sério Sofia?
- Olha, queres que seja sincera Duarte? Foram uma merda. Passei estes dias numa frustação. Sabes como sou, e tu não me saías da cabeça, de todo. E depois eu pensava que já tinhas arranjado outra, que já nem te lembravas de mim. Eu não conseguia sorrir, levantava-me tarde e a más horas, não comia, e tudo por causa duma estúpida discussão. Não imaginas o quanto fiquei feliz quando chamas-te o meu nome, naquele tão maravilhoso dia… Eu passei horas agarrada a fotos, e de nada me valia, porque ainda mais escuro o meu coração ficava, de tudo o que me lembro da minha triste e mínima vida, estas férias foram as piores até hoje e para sempre…
O Duarte calou-a com um beijo, um beijo que transmitiu paz, e que substituiu muitas palavras, e a mais importante era um “amo-te”, mas como isso não pode passar sem se ser dito ele pronunciou-se, no fim de um beijo tão demorado:
- Eu amo-te Sofia, e não há nada mais a fazer. Estamos bem agora, e é agora que interessa.
E beijaram-se novamente, todo o amor que eles sentiam um pelo outro trespassava-se pelas suas bocas, o sentimento era muito forte, ela abraçou-se a ele com toda a força que tinha, e dali tiveram a melhor noite da vida deles.
Os calores eram intensos, a intimidade entre ambos que já era forte ficara ainda mais forte. Aquele momento seria memorável para o resto das suas vidas. Era a primeira vez dela, ele era um “aventureiro”, digamos, e não era a dele, mas com uma pessoa que amasse daquela maneira era, definitavamente.
O corpo deles ficara um só, as palavras eram desnecessárias, quando os olhares falavam por si e o calor de cada um havia sido remediado pelo outro à medida que as roupas eram tiradas. E foi quando o seu olhar, a sua boca, o abraço e o beijo se alinharam que o calor aumentou. Estava a ficara um calor agradável naquele quarto. Partilharam momentos inesquecíveis durante muito tempo.
- Eu amo-te, foste sempre com quem eu sonhei fazer isto.
- Eu quis ser sempre o primeiro a fazer-te isso. Sei que assim não te irás esquecer.
- Podes crer que não.
E durante muito tempo aquelas gotas de suor iam-se misturando, aqueles beijos iam ganhando força, os abraços ganhavam vontade, e eles não paravam.
Quando ela deitou a sua cabeça no braço dele, adormeceu rapidamente. Ele ficara a admirá-la a noite toda. Não dormiu, também já falatava pouco tempo para o Sol dar sinal da sua presença, mas ele ficaria ali, toda a noite, todo o dia (…)


terça-feira, 8 de novembro de 2011

17th Season

Eles eram inseparáveis. “Os três da bigairada” como dizia a Mariana, eram realmente unha com carne (…)
Houve uma altura, em que quando foram comer fora, aquelas tardonas que a Sofia amava. Cinema, McDonald,  gargalhadas, e as pessoas que mais gostava...
Bem, no almoço ela escolheu o que tipicamente escolhia, uma Big Mac com Ice Tea de Pêssego, só que este foi virado mal poisou o tabuleiro na mesa – e tão desajeitada que ela era, por vezes procurava o telémovel com ele na mão, às vezes nem se aguentava nas próprias pernas, e até tropeçava no próprio pé – contudo, as gargalhadas haviam sido o resumo de todo aquele dia.
No cinema, pipocas grandes como sempre, uma guerra de pipocas entre os três. E depois partilhavam beijos, abraços, Sofia e Duarte matavam ainda todas aqueles saudades, daqueles dias mal-passados. O filme era um drama que acabava em bem, ela chorou e ele disse-lhe “nunca te farei o mesmo”, o que contou muito.
No comboio, á vinda para casa, mudaram umas cinco vezes de carruagem. Andavam a “sirigaitar” dizia a Mariana. Mas o sorriso não saia da cara dela.
Quando finalmente chegaram a casa, o jantar foi lasanha. Enfiaram-se os três debaixo de um cobertor no sofá, e quando já era tarde eles os dois foram para o quarto, e Mariana ficou adormecida na sala.
Seria uma noite inesquecível, para todos (…) 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

16th Season

E foi quando saíram daquele hospital, depois de uma cambada de papéis assinados, e medicamentos que ainda se tinham de comprar, e recomendações, e aquele típico discurso que todos os médicos têm, (...) depois de tudo aquilo é que eles se olharam realmente. Ela ficara com uma marca na barriga, e aquilo iria ficar-lhe para sempre, mas ela vulgarmente chamava aquilo de "marca do amor", e já todos sabemos porquê.
Eles saíram, a Sofia quis que fossem todos aquela Pastelaria, e foram. Eles contaram a história todinha à Mariana, e o Duarte e a Mariana contaram como tinham passado aqueles dias de angústia juntos à Sofia. Foram história passadas e vividas, muito riram, e muitas vezes quase choravam de emoção.
A Mariana ficou super alegre, pois percebera que afinal a filha não desistira dela, e estava só numa má fase da sua vida. Ela percebeu que tinha a melhor filha do Mundo, e sorriu para ela enquanto pensava no quão bela era ela. A Mariana ouviu todas as histórias que eles tinham para lhe contar com toda a atenção, orgulhosa, por ter uma filha que confiava nela.
O Duarte estava eufórico de tanta felicidade, ele não queria acreditar que estava mesmo ali. No café onde se conheceram, onde houve o primeiro encontro. E agora estavam ali, depois de tanta coisa que se passou, e eles ainda ali estavam juntos…
A Sofia estava mais radiante que nunca, olhava para a mãe e pedia-lhe desculpas psicologicamente porque sentia que havia sido uma má filha estas férias, ela reconhecia isso, mas estava disposta e recompensá-la. E olhava tão ternamente a pensar naquilo que o fez sofrer graças á sua teimosia, e orgulho, mas disposta a compensar também o seu Duarte. Ela estava feliz porque eles eram uma família, agora unida e feliz.
O sorriso de cada um ia aumentando gradualmente, e aquilo não foi apenas uma tarde bem passada, foi um reencontro daquilo que haviam sido, uma junção do passado no presente. Aquilo era a última peça do puzzle…


domingo, 30 de outubro de 2011

15th Season

Eles viram-se e ela sorriu, ela apensas sorriu. Abraçou a mãe mas nada mais fez se não apertá-la bem, e dizer que a amava. Ele limitou-se a observar tudo enquanto todas aquelas memórias lhe atravessavam a mente mais uma vez, uma de tantas nos últimos tempos, para sermos sinceros desde que “acabaram”. Ele ainda tinha aquele sentimento de culpa pelo que lhe aconteceu, e aquele momento ainda presente na sua memória era terrível. Contudo, após uns minutos com a mãe ela foi ter com ele.
- Lamento que tenhas de me ver neste estado, não tenho rímel, nem gloss …
- E achas que me importo com isso?! (pausa) Este tempo foi assim tanto para que desse para te esqueceres daquilo que gosto ou não?!
- Não, nem foi tempo para te esquecer a ti, quanto mais àquilo que gostas ou deixas de gostar.
De repente foram interrompidos :
- Olha filha, eu vou falar com o médico lá fora.
- Sim, mãe. Vai lá.
Eles sairam…
- Duarte, não sabes como passei estas férias, não sabes como estou por dentro. Eu tinha a certeza que já me tinhas esquecido, e eu a ti, mas quando te vi naquele dia na praia, percebi que nenhum dos dois tinha realemente acontecido.
- E agora? Queres continuar nesta constante onda negra?
- Este tsunami acabou…
Saltou para os braços dele abraçou-o com toda a força que encontrou e beijou-o. Foi tão longo e demorado que naquele momento eles não queriam mais nada, se não um ao outro. O sentimento era o mesmo, e aumentava a cada dia. Eles reviam-se tantas vezes naqueles dias de desespero. Mas ela era  tão orgulhosa, e ele pensava que já havia sido esquecido. Aquele momento foi único. A mãe estava do lado de fora da janela com o médico e chorou, chorou de tão emocionada que estava, chorou de felicidade. Chorou porque Deus assim o quis. Olhou para cima, e agradeceu. Agradeceu por a filha estar de pé, sã e salva, e feliz com o Duarte. Aquela que era a sua maior companhia e o seu braço direito e até ombro para chorar naqueles dias. Ela percebeu que a filha era grande o suficiente para saber escolher, ela percebeu que ainda a amava e que ela a ele, e ela, a Sofia, apenas pensava que tinha o melhor namorado e a melhor mãe do mundo. Depois de esboçar um grande sorriso para a mãe voltou a beijar o Duarte.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

14th Season

Na noite antes do tão esperado dia, eles estavam nervosos, estavam tão anciosos que não se falaram a noite toda. Até que, quando adormeceram, os seus sonhos pareciam cruzar-se.
Enquanto que ela sonhava com a entrada no hospital, ele sonhava em vê-la. Ela sonhava ver a filha e abraçá-la, ele numa saída a três depois do hospital. Ela sonhava que a filha já os reconhia, ele que ela ia saltar para os seus braços e beijá-lo.
Quando acordaram estavam minimamente calmos para o dia que era. Tomaram banho, vestiram-se, comeram, tudo com calmas e longas conversas… Finalmente, meteram-se no carro. Quando chegaram à porta do hospital a Mariana começou a chorar.
- Calma, não podes estar assim.
- É mais forte do que eu Duarte, eu não consigo pensar sequer que ela não me vai reconhecer.
- Mariana, mas e quem te disse que ela não te vai reconhecer? Ela está numa clínica ótima, ela está na mão dos melhores médicos, ela recuperou, de certeza. Porque é que estás a aceitar o que não sabes? Porque supões, quando tens a uma porta as respostas? Agora limpa essas lágrimas, entra aqui dentro e mostra à tua filha que és radiante, e dá-lhe energia com o teu brilho.
Eram nestes momentos que se via aquela cumplicidade, aquele toque de amizade. Foi com estes momentos que a Mariana começou a pensar que a filha já não era uma criança, que os namoros já não eram uns beijitos e uns abraços, agora era uma vida. Ela estava mentalizada de que eles se amavam, e muito. E, verdade, que o que ela imaginava não era nada  em comparação ao que eles se amavam na realidade.
Eles entraram, ambos receosos, apesar de com esperança. O médico dirigia-se a eles, e ouvia-se a pulsação um do outro, como se todo o mundo tivesse parado só para ver aquele percurso do médico até eles. Eles iam de mão dadas, e cada vez as apertavam mais, uma pinga de suor caiu no chão e o barulho foi estrondoso na cabeça deles. De repente:
- Bom dia – diz com um sorriso que transbordava felicidade – vieram cedíssimo.
- Bom dia – ambos se questinavam se aquele sorriso era por obrigação de trabalho ou se era por vir aí boa coisa.
- Estamos ainda à espera dos resultados das últimas análises que ditam se darei alta ou não, são dez minutinhos.
- Sim, mas podemos como é que ela está? – pergunta, quase interrompendo, a Ana.
- Melhorou? - questiona o Duarte com o coração nas mãos.
- Sim, está com muito melhor aspeto e fala pelos cotuvelos. Pensamos que metê-la num quarto com companhia seria melhor, e é que foi mesmo. Não se cansa de contar história de infância…
- Ela já se lembra de nós ? – dizem em simultâneo.
- Claro que já, e anda farta de perguntar quando vêm.
- Mas pelos dois? – pergunta, entristecido, o Duarte.
- Sim, por vocês os dois, mãe e namorado.
Um sorriso enorme se esbouçou na cara deles. A felicidade era tanta que só se lembraram de se abraçar. Durante esse longo e apertado abraço foram voando palavras de conforto, palavras de agradecimento, palavras… palavras com muito significado...